Quando me percebi diante de
Texas Blue, um curioso peixe oriundo do México que silenciosa e vagarosamente veio ter comigo diante de seu aquário úmido, tive uma espécie de encantamento consciente.
Havia dias eu vinha pensando no que poderia ser a síntese de "
Poesia", de Lee Chang-dong, um filme que eu havia visto uns dias atrás e que havia ficado, em partes.
Decerto que a mulher protagonista, que como
Texas Blue vivia sua vida sem extravasar-lhe sequer um átimo na franca prática do
Caminho do Meio, ou
Tao [e em tempos pós-Google não posso nem mesmo precisar até que ponto são sinônimos], decerto que
ela apreciaria o modo como eu olhava e via
Texas Blue naquele momento.
Fiquei mais uma vez contente com a poesia que há nas coisas. A grande questão está em vê-la e decididamente cercá-la de sujeito a cada dia, a cada passo. Essa consciência premente de que tudo está vivo, de que tudo é, enquanto nós assim o percebemos, isso é que nos leva a essa delicada epifania.
"Eu sou o outro". Não há cor, som, suor ou afobação na frase. Tampouco no parque. O silêncio é que prevalece por entre algumas vozes agitadas [o
aquário de
Texas Blue está encrustado em uma caverna aberta à visitação do público], o barulho de passos, o canto de pássaros diversos, o farfalhar de árvores e da tarde caindo mais depressa porque é inverno.
Mais adiante, os dias passando em seu ritmo próprio, cai-me às mãos uma ilustração de Jiro Taniguchi, que desconhecia. Nela, "
O homem que caminha" está sentado em uma árvore. Nela, reencontro a mulher do filme e a mim mesma, já os sou também.
Não é uma grande revelação, porém é incomensurável. [Risos. Essa figura de linguagem pertence a outro fillme, com dos lls.]
No mais, o café que nos engoliu na Rua J. J. tem uma maçã no nome, o Pequeno Príncipe voltará à galáxia dentro em breve, a comunicação com o homem do futuro permanecerá incógnita e eu me lembrarei de alguns passos que dei pelo caminho do meio.