Quando eu era bem pequena, o meu avô João me perguntou o que pesava mais: um quilo de penas ou um quilo de chumbo. E eu, toda faceira, respondi: - Um quilo de chumbo, Dada!
Na minha inocência, não percebi que era uma "pegadinha" do meu avozinho, e pra mim, era claríssimo que o chumbo era muito, mas muito mais pesado!
Então, meu querido, como hoje é o seu aniversário e você está ficando um menino crescido, acho que já está chegando a hora em que pode compreender a diferença que há entre o que uma coisa é e o que uma coisa nos dá a impressão de ser. Na escola, as professoras de português chamam a isso de denotação e conotação.
Além de te desejar muitas alegrias e todas as coisas boas que a vida possa lhe oferecer, também lhe desejo que você possa e sobretudo goste de refletir sobre o que as coisas são, sobre o que elas parecem ser e sobre o peso que cada coisa tem.
Se de um lado temos, como falam os adultos, o peso lógico e denotativo de cada coisa [ora pois, se um quilo de chumbo efetivamente pesa mais que um quilo de penas], o que temos em contrapartida?
Quando as nuvens ficam carregadas e o temporal se anuncia, os poetas cantam as nuvens plúmbeas e quando os exilados relembram um passado antigo, eles choram os Anos de Chumbo.
De alguma maneira e de várias, o chumbo é matéria que veio a carregar em si uma ideia sub reptícia de algo triste, duro, pesado. A isso temos chamamos impressão, enquanto que na escola os professores nos ensinam o que é metáfora e conotação. Aos poetas, coube a materialização dessa aparente contradição.
Assim é a vida do que parece ser. Enquanto no nosso imaginário o chumbo é pesado, as penas (sobretudo as brancas), nos remetem ao etéreo, à serenidade, à paz.
As penas, efetivamente, nos trazem mais leveza que o chumbo.
Menino, isso não parece ser um delicioso mistério?!
Por isso, meu querido, escolhi como presente pra você a biografia de Mahatma Gandhi, um líder indiano, que de mãos vazias pregou e praticou a paz e a não-violência e com tal leveza, que se saiu vitorioso. Saimos todos nós, né?
Um beijo,
Dinda
PS – Não conte pra ninguém, mas eu continuo achando que um quilo de chumbo pesa mais do que um quilo de penas!
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