Wednesday, 2 June 2010

Fifa Fan Fest, cadê a praia que estava aqui?!

Fifa Fan Fest, foto de Isabella Lychowski A capacidade do Fifa Fan Fest é de 20.000 pessoas
Fifa Fan Fest, foto de Isabella LychowskiMas foram instaladas "torres" com propaganda dos patrocinadores de maneira que quem está na rua e não conseguiu entrar, tampouco consegue ver o telão. Que anti-democrático! Ainda mais na praia , que é de todos.

Fifa Fan Fest, cadê a praia que tava aqui? Foto de Isabella Lychowski
As grades da obra dão uma ideia do que restou da praia.

Fifa Fan Fest, cadê a praia que tava aqui?! Foto de Isabella Lychowski

O Fifa Fan Fest ocupará cerca de um quilômetro de extensão da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para transmissão ao vivo dos jogos da Copa do Mundo.
Além da transmissão dos jogos durante o dia, haverá eventos culturais e shows à noite. O acordo entre a Fifa e a Prefeitura do Rio prevê que a cidade-sede deve, entre outras atribuições, construir um espaço com capacidade para receber, no mínimo, 20 mil espectadores, com acomodações suficientes para a instalação de um palco, telões e área de alimentação. O local vai funcionar entre 10h e meia-noite.
Acho que o Fifa Fan Fest deve ser um evento muito bacana pra quem gosta de esportes, mas discordo do local escolhido. A área ocupada é muito grande e agride a natureza.

O que sobrou da pobre praia é um disparate. Por que não utilizaram o Sambódromo ou o Riocentro, por exemplo?

Atualização em 23/06/2010

Fiquei pasma com a instalação de "torres" com propaganda dos patrocinadores do evento ao longo do que seriam os muros laterais do Fifa Fan Fest. Foram instaladas de maneira que quem não conseguiu entrar (a capacidade é de 20.000 espectadores), também não consegue ver o telão do lado de fora da "arena". Que anti-democrático! Ainda mais na praia! Pra mim isso é incompreensível, incongruente e paradoxal. A praia é de todos. Faria tão mais sentido se a população pudesse assistir de fora também. Fica aqui a sugestão.
Atualização em 24/06/2010
Colo aqui embaixo o anúncio institucional publicado pelo Governo Federal em um jornal impresso. Muito bacana, eu também acho que o nosso litoral é direito de todos, mas ainda não consegui achar o conteúdo do Projeto Orla no site indicado para entrar em contato e avisar que eu me sinto impedida de utilizar a praia pelo Fifa Fan Fest! Além disso, diferentemente de outros shows na praia, esta arena tem muros que impedem os que estão fora de assistir aos jogos!
"O litoral do nosso país é um bem público. Ajude a mantê-lo na mão do seu verdadeiro dono: o povo brasileiro.
O litoral brasileiro é um verdadeiro patrimônio natural e seu uso pelo cidadão está assegurado em lei. Por isso o Governo Federal criou o Projeto Orla, que tem o objetivo de preservar e organizar nossa faixa litorânea. Caso você se sinta impedido de utilizar a praia por construções, quiosques ou qualquer outro tipo de empreendimento que esteja sendo erguido na olra marítima, entre em contato com o a gente. Acesse o site www.planejamento.gov.br e fale conosco. Projeto Orla. O uso do nosso litoral é direito de todos."

Tuesday, 25 May 2010

Gordon Matta-Clark, um homem inteiro

Gordon Matta ClarkGordon Matta-Clark (esse bonitinho aí de cima) partiu casas condenadas ao meio, comprou terrenos de 25 cm, ofereceu ar "de graça" aos passantes em Wall Street, boicotou a Bienal de São Paulo e pretendeu explodir um pedaço do Muro de Berlim; amigos o demoveram e ele fez uma "peformance" no local da malograda explosão. Isso tudo nos anos 70.

A obra de Gordon Matta-Clark tem um vigor e um ímpeto contagiantes de salvaguarda do coletivo. Foi com esse espírito que eu saí da sua exposição no Paço Imperial, no Rio de Janeiro (de pé até 25 de julho). Homem nenhum é um ilha, você é o que você compartilha, não dá mais pra mercantilizar moradias, privatizar o coletivo, sair no bloco do eu sozinho. Me lembrei do "Zero Dólar", do Cildo Meirelles, dos discursos de Leonardo Boff, da câmera na mão de Glauber Rocha.

Mais do que isso, fiquei com a sensação de que o legado do moço, morto prematuramente aos 36 anos, é esse mesmo: não dá pra continuar assim, mas dá pra mudar tudo.

Algumas obras que destaco:
Em "Fresh air" (1971, em parceria com o videasta Juan Downey), Gordon Matta-Clark oferece oxigênio a passantes em Wall Street. Já lá se vão 35 anos e a sensação de espanto e desconforto são os mesmos. Estamos mercantilizando a natureza...
Uma série de fotos de terrenos demarcados por Gordon, que na verdade eram micro-terrenos que ele comprou junto com um amigo para... [refletirmos sobre a razão da existência das mansões e sobre a mercantilização da utilização da moradia]...
O vídeo de Gordon fazendo a sua perfomance no Muro de Berlim.
"Splitting" (1974), o vídeo de Gordon partindo uma casa condenada ao meio.
Seus cadernos de desenhos.
As fotos com o pai também artista plástico Roberto Matta e o irmão gêmeo (também morto prematuramente aos 33 anos).

Fontes:
Imagem: blog do Programa de Pós-Gradução da Faculdade de Arquiterura e Desenho de Bio-Bio, no Chile (post muito bacana)
Matéria do JB Online, de 06/05/2010
Bravo!, março de 2010, Gordon Matta-Clark, o homem que fatiava prédios

Saturday, 15 May 2010

Comunidade

Três, foto de Isabella Lychowski
Comunidade
por Franz Kafka

Somos cinco amigos; uma vez saímos um atrás do outro de uma casa; primeiro veio um e pôs-se junto a entrada, depois veio, ou melhor, dito, deslizou-se tão ligeiramente como se desliza uma bolinha de mercúrio, o segundo e se pôs não distante do primeiro, depois o terceiro, depois o quarto, depois o quinto. Finalmente, estávamos todos de pé, em uma linha. A gente fixou-se em nós e assinalando-se, dizia: os cinco acabam de sair de casa. A partir dessa época vivemos juntos, e teríamos uma existência pacífica se um sexto não viesse sempre a se intrometer.
Não nos faz nada, não nos incomoda o que já é o bastante; por que se introduz por força ali onde não é querido. Não o conhecemos e não queremos aceitá-lo. Nós cinco tão pouco nos conhecíamos antes, e se quer, tampouco nos conhecemos agora, mas aquilo que entre nós cinco é possível e tolerado, não é nem possível e nem tolerado com respeito àquele sexto. Além do mais, somos cinco e não queremos ser convivência permanente, se entre nós cinco tão pouco tem sentido,
mas nós já estamos juntos e continuamos juntos, mas não queremos uma nova união, exatamente em razão de nossas experiências. Mas, como ensinar tudo isso ao sexto, posto que longas explicações implicariam em uma aceitação de nosso círculo? É preferível não explicar nada e não aceitar. Por muito tempo que franza os lábios, afastá-lo, empurrando-o com o cotovelo, mas por mais que o façamos, volta outra vez.


Comunidade, conto de Franz Kakfa, tradução de Torrieri Guimarães. Frankfurt, 1952.