Friday 31 July 2009

É mesmo?

Uma linda garota da vila ficou grávida. Seus pais, encolerizados, exigiram saber quem era o pai. Inicialmente resistente a confessar, a ansiosa e embaraçada menina finalmente acusou Hakuin, o mestre Zen o qual todos da vila reverenciavam profundamente por viver uma vida digna. Quando os insultados pais confrontaram Hakuin com a acusação de sua filha, ele simplesmente disse:

"É mesmo?"

Quando a criança nasceu, os pais a levaram para Hakuin, o qual agora era visto como um pária por todos da região. Eles exigiram que ele tomasse conta da criança, uma vez que essa era sua responsabilidade.

"É mesmo?" Hakuin disse calmamente enquanto aceitava a criança.

Por muitos meses ele cuidou carinhosamente da criança até o dia em que a menina não agüentou mais sustentar a mentira e confessou que o pai verdadeiro era um jovem da vila que ela estava tentando proteger.

Os pais imediatamente foram a Hakuin, constrangidos, para ver se ele poderia devolver a guarda do bebê. Com profusas desculpas eles explicaram o que tinha acontecido.

"É mesmo?" disse Hakuin enquanto devolvia a criança.

Conto Zen "É mesmo?"

(...) Acredito que este conto zen prescinde de qualquer comentário. Algo parecido com o "eles passarão, eu passarinho" do nosso querido Mario Quintana. É um mood que precisa de muita respiração pra encarar, mas com um encantador mode tautológico de auto-redenção. Tô bancando.

A propósito, é mesmo?

Wednesday 29 July 2009

Niemeyer, going and returning mode

Going mode:: Niemeyer :: Rio de Janeiro :: 28th of July 2009

A onda do mar leva / A onda do mar traz
Quem vem pra beira da praia, meu bem
Não volta nunca mais. (Dorival Caymmi)

Returning mode:: Niemeyer :: Rio de Janeiro :: 28th of July 2009

Sunday 26 July 2009

Poucas e boas

Foto de Fernanda Alves dos Santos Foto de Fernanda Alves dos Santos, Praia de Maracaípe (PE)

> Alguém disse a Madre Teresa de Calcutá, ao vê-la cuidando de leprosos: "Não faria isso por dinheiro nenhum no mundo", e ela teria respondido: "Nem eu"."

>"Tudo que pode ser revolvido com dinheiro, é barato." Erich Maria Remarque, em "Arco do Triunfo".

> "Los grilletes de oro son mucho peores que los del hierro." Mahatma Gandhi

> "Só quando a última árvore for colocada abaixo, só quando o último rio for envenenado, só quando o último peixe for capturado, só então vocês compreenderão que o dinheiro não presta para se comer e nem beber". Profecia Cree

> Um conto zen anônimo:
- Eu sou um homem muito rico, tenho casa com piscinas.
- Tenho também porcos e galinhas.
- Mas eu, tenho piscinas dentro de casa.
- Eu também... tenho porcos e galinhas dentro de casa.

>@marwilliamson Imagine billions of dollars, and all the power that represents. Now realize, slowly and deeply, that the power within you is more powerful.

Thursday 16 July 2009

Ganhei!

Wyspianski, 1902Putz, difícil assim de repente escrever sobre um pai. Mas deu vontade. O meu, por exemplo, me ensinou um valor tão precioso e necessário, que aqui estou a compartilhá-lho (aliás, compartilhar é "a" palavra do momento, alvíssaras).
Éramos ainda bem pequenos, eu e meus irmãos, e ele já tinha esse jeito paciente, complacente, calmo.
"Jogava" conosco decerto para dar um refresco à nossa mãe; não é que realmente gostasse de jogar. Hoje até anda meio fanático (como torcedor), mas isso é uma outra história.
Fosse qual fosse o jogo, a frase com que punha fim à partida invariavelmente era: - "Perdi!".
O tom, que só vim a entender um pouquinho depois (mas ainda bem criança), era divertido e leve. Ele parecia contente por ter perdido. E estava. O recado, que não, não aprendi de primeira, nem de segunda, era: isso não é o importante.
Pirralha eu me comprazia com o feito. Tinha ganhado do meu pai! Devia ser muito boa naquilo.
Já um pouco mais tarde me caiu a ficha que ele fazia aquilo tudo de caso (bem) pensado (e por pura generosidade e didatismo): ele nos deixava ganhar todas as vezes. Fácil fácil tornei-me sua "cúmplice" no divertido "jogo" de "dar a vitória" aos menorzinhos.
Ah, pai, e não é que é verdade mesmo? Isso não é o importante. Ganhei isso de você, obrigada!
Vou te contar um segredo: tenho ganhado muito por ter perdido.
"Porque todo aquele que conserva a sua vida para si mesmo, vai perdê-la; e todo aquele que perder a sua vida por Mim, vai achá-la novamente". Mateus, 16

Sunday 12 July 2009

É muito bom saber, amigo

Roberto Carlos é um cara que vende muitos discos. Erasmo Carlos nem tanto.

Esse frase inicial não tem nenhuma importância. Graças a Deus. O que se vê nesse vídeo é uma demonstração pública e desinteressada de amizade sincera e profunda. Além disso, é um baita exemplo em uma era bobinha, onde as pessoas correm pra dar valor ao que parece ter valor. Ora, o que tem valor de verdade, vamos combinar, não é mensurável, pois quando somos todos iguais e, sim, somos, não existe como e porque competir, comparar; o que existe é harmonia, unidade e amor.

Roberto e Erasmo, adorei, bicho, obrigada... Lindo!

PS Retórico - Não preciso lhe dizer, tudo isso que eu te digo, mas é muito bom saber que eu tenho um grande amigo.

Saturday 4 July 2009

Womanly

Ando burilando um certa exuberância intermitente, que além de cair bem, me coloca a par do barulho que a chuva grossa faz na mata.

Por ser inconstante, a exuberância, vem em surtos e sem cerimônia instala-se; não tarda os surtos ficam espaçosos, despreguiçosos alongam-se no bote da canícula do verão; assim me tomam por inteira. Peço perdão, ando womanly ultimamente. Os sonhos têm dito assim. Resisto à reforma ortográfica. Nunca vai haver Maicosuéis, Suelens, Tins, Tons e Tais em terras lusófonas?

Os outros - uns gostam, embarcam; outros nem tanto e há ainda aqueles que se espantam. Como eles sou eu, sendo múltlipa até o talo, o gigantismo faz a festa e se multiplica.

Ah, isso então. Me vejo em tudo; estou, nesses momentos, em tudo. Sou tudo. Baita bom.

Disso tudo, sem em nada desprezar o sumo, porém indescritível, cuspo alguns caroços. Um foi sonho: quatros moças prenhas encontram-se em um ponto cardinal de suas barrigas. Cada uma debulha-se em um aspecto de estar prenha. Naturais, possíveis, adoráveis, o quatrilho são aspectos meus? É espelho? É o mundo se renovando? Baita bom.

Outro caroço de fruta. O mar está de um azul produndo, encarneirado por causa do vento forte nesse julho de 2009. Revolto em si mesmo engendra uma multidão de ondinhas brancas que, desafiando a gravidade, buscam as alturas como pirâmides azuis escuras. Nada disso impede, porém, que a onda mais bojuda busque se agigantar e irrompa em direção às franjas de São Conrado rasgando o espaço em fenômeno de interseção de vários elementos. Suas cristas luminescentes e aquosas permitem que o vento as empurre para trás, bem como que o sol do meio-dia ali imiscua-se, iniciando (aonde mesmo?) um arco-íris, que persegue as gotas que o vento carrega na direção contrária. De tirar o fôlego. Baita bom.

Peço perdão, ando womanly ultimamente.

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Vídeo no YT: Time lapse in Rio de Janeiro

Friday 3 July 2009

A quem pertence?

Saudades da Ilha Grande "Como o budismo pode ajudar as pessoas a lidar com a crise econômica?

A crise é um reflexo de um sistema que seguimos no nosso dia a dia - lidamos como os sintomas, não com as causas. Se a pessoa está com dor de cabeça, toma um remédio. Esquece que não dormiu o bastante ou que tem uma alimentação inadequada. Se há violência na sociedade, as pessoas investem em segurança e fazem vista grossa às desigualdades. Resolve-se o sintoma num ponto, mas rapidamente ele aparece em outro.

A crise surgiu porque o sistema econômico não é sustentável. Não se pode manter um estado de bem-estar e crescimento que depende do sofrimento de outras pessoas - 3 bilhões vivem abaixo do nível de pobreza e 2,5 bilhões são pobres. É um sistema que depende do uso ilimitado de recursos esgotáveis. O bem-estar da sociedade é erroneamente associado ao bem-estar econômico e a avaliação da economia é baseada na estabilidade e poucos países ricos. A crise é consequência do egoísmo, da ganância pelo consumo e de um ponto de referência de sucesso no acúmulo de bens e dinheiro. O colapso do sistema está no início. A solução que está sendo colocada continua olhando apenas o sintoma, não a raiz do problema."

Trecho da entrevista do Lama Michel Rinpoche à Revista Planeta, julho de 2009.

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Recentemente li um interessantíssimo artigo de Lala Deheinzelin sobre a necessidade urgente de mudarmos os índices que mensuram a economia, que andam considerando apenas os "valores tangíveis", quando somos movidos em grau muitas vezes maior por "valores intangíveis" (bem-estar, por exemplo) e que, por não serem "remuneráveis", não são considerados como índices de mensuração da riqueza econômica.

Bem como o recado aí de cima do Lama Michel. É verdade, investimentos em mercados financeiros (especulação, dinheiro que gera mais dinheiro) seriam apenas plausíveis e razoáveis em um planeta onde não houvesse um único ser humano miserável, o que dirá quase que um continente inteiro, como a África.

Outra reflexão que ando fazendo. Parte da mídia tradicional anda se queixando do território livre da internet, onde compartilhamos "suas" notícias sem lhes pagar direito autorais.

Mas, juro, realmente, pra mim é muito difícil "captar" que lógica é essa. Não entendo. A quem pertence o que Lama Michel disse? Apenas a ele mesmo e àqueles que compraram ou emprestaram a revista?

Putz, não, né? Suas palavras representam um bem intangível, um bem comum. Que bom que, graças à internet e às novas mídias, um número maior de pessoas podem ter acesso a elas. (Como seria, por exemplo, se o Lama achasse que a ação transformadora de "sua" sabedoria nas pessoas devesse ser remunerada?)

Mas ainda bem que não, isso não faz sentido algum.

Precisamos repensar a economia.