Sunday 30 August 2009

Anatomia de uma escavação em Ipanema

De canga numa hora dessas? Foto de Isabella Lychowski, 29/08/09
Ontem vimos um filme perturbador com grau 5 de suportabilidade; tão perturbador que ficamos a vagar um longo tempo pela avenida, nos imiscuindo por entre as frestas do vento e depois, mais firmes, pelas ruas de dentro, pela rua larga. Custou até que falássemos. Não palavrinhas, comentários comezinhos, babados de redes sociais. Tratamos de hablar palavras palavras. Há um rio enorme dentro de nós. Há pássaros. Há bananeiras e morcegos que nelas atabalhoadamente se abrigam. Mire e veja. Mas não precisa mostrar pra ninguém, sequer fotografe ou filme. Os tempos são outros. A verdade é.

Como fazer isso sem fé? (Frase lida no jornal de hoje, pimba, João Donato de novo).

De certa forma, ainda estamos lá. A fala, suspensa por um ínterim (quanto tempo?), acomodou-se em seu rumo certo, sem firulas, sem meias-palavras, sem entrelinhas, tudo ali em pratos de alface e quinua limpos. Sem óculos, enxergamos pouco. Mas pra que óculos, quando tudo está dito? Quando tudo está visto. Olho míope no outro olho míope ou sei-lá-o-quê. Nós sabemos, intimamente, que nada é pra já. Não nos afobamos. Take your time, baby. Temos a vida inteira pela frente que se perpetua nas pausas entre nossas falas, nas águas caudalosas de nossos rios, no nosso cabimento e descabimento desmisturados. Tudo assim calmo. Tudo assim assim como é. Queremos que tudo dê certo. Sempre quisemos. Isso é amor.

Depois, ah depois, o tempo passa também. Só isso. Hoje já não é ontem nem será amanhã. Hoje eu me deparo com a onda a nordeste de mim e com essa grandeza que me esbugalha, me estilhaça, me desestabiliza e me lembra como é bom falar com você.

Repetidamente.

Foto de Marcus Schaefer Foto de Marcus Schaefer, 30/08/09, Eu-Repórter (?) do Globo

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